28 de maio – Capoeira e Memória

No dia 28 de maio, tivemos dois eventos no Polo: uma Palestra sobre Memória, com o Prof. André Laino e uma Mostra de Capoeira, com o grupo Navio de Angola.

Confiram o conteúdo da palestra e fotos da Mostra.

8 horas – Palestra – Memória: Teoria e método
Com o Prof. André Laino

Nesse encontro refletimos sobre a complexidade da Memória e sua ligação com diversos outros conceitos, como Distorção, Verdade, História e Sociedade.

O que é memória? De que ela é formada? Qual a sua importância?

Para o professor André Laino, além de nossas lembranças, a memória é também o silêncio inexplorado, que fica assim devido a dor ou desconforto que pode causar caso seja investigado. A análise da memória, mesmo que dolorosa, nos proporciona uma visão amadurecida de nós mesmos e do mundo.

O professor destacou a importância do conhecer e do criticar para a criação e manutenção da memória. Disse que quando a pessoa conhece o mundo, algo ou alguém, essa pessoa também se conhece.

Mas, no que consiste a memória?

Na sociedade, memória é um conjunto de crenças, valores e mitos criados e sustentados por fatos e distorções. Assim, a memória é um processo seletivo.

A distorção é intrínseca ao ser humano, é uma forma de esconder nosso físico, social ou psicológico. É uma forma de esconder partes de nossa existência. Apesar desse caráter omissório, a distorção nem sempre é falsa ou mentirosa, muitas vezes ela é o retrato de uma maneira de se interpretar a história.

A luta de classes na sociedade se estende ao campo da Memória. Tanto no lado dominante (representado por aqueles que acumulam capital e/ou têm os meios de legitimar sua cultura/estilo de vida) quanto no lado dominado (representado pelas classes trabalhadoras e membros de etnias e culturas marginalizadas) temos fatos que agradam mais a um grupo do que a outro, assim como distorções criadas pelas diferentes visões dos mesmos acontecimentos. Assim, cada grupo da sociedade tem uma memória característica, que condiz e corrobora com suas crenças. A única verdade absoluta é a de que ambos os lados escondem algo.

A memória, social ou individual, é reproduzida diariamente. Na sociedade, há métodos e ferramentas selecionando o que deve e o que não deve ser reproduzido. Se mitos ficaram é porque algo os manteve. A história não é feita só de transformações, mas também de conservações.

Quando os mitos caem, acontecem as revoluções.

Tanto no campo social como no individual, as revoluções são tentativas de mudança originadas pelo maior entendimento de sua história. Ao buscar na memória o sentido das coisas, podemos perceber fatos omitidos e distorções e assim termos um maior entendimento do que se passa. As pessoas e as culturas são sustentadas por idéias e valores, quando percebemos que nossas bases, coletivas ou individuais, não são tão sólidas, tendemos à confusão e à mudança.

Toda história recebe interferências pessoais, políticas e econômicas.

Após esclarecer um pouco o que é memória, o professor passou a abordar como essa se relaciona com a Verdade.

De acordo com o professor, o grupo dominante faz uso da chamada Indústria de Cultura de Massa para esconder/desfazer a Memória do Oprimido (assim aumentando sua ignorância e sua falta de senso crítico). Por exemplo, a Grande Mídia (com suas concepções sobre heróis, poder, etc) nada mais é do que uma ferramenta utilizada pela classe dominante para dominar, enganar e silenciar as classes oprimidas.

Um exemplo de como a Grande Mídia manipula a verdade (e logo a História e a Memória) está no “estouro de escândalos”, principalmente os de cunho político. Para o professor, em casos assim, a verdade não está no fato ter aparecido, mas nos motivos que levaram a esse aparecimento.

Essa tentativa da classe dominante em impor suas regras e concepções faz com que as outras classes, para não sucumbirem, precisem desenvolver seu senso crítico. A crítica (o levantamento da dúvida) pode ser (e na maioria das vezes é) mais importante do que uma resposta imediata. O professor diz que senso crítico independe de escolarização, e cita o exemplo do senhor de idade, sem muitos estudos, que passa por uma banca, lê uma manchete de um jornal e questiona: Será que isso é verdade?

A todo momento nos deparamos com imposições de crenças e de valores. Daí vivermos num constante conflito íntimo: A exigência de sermos perfeitos sem termos condições para tal. Essa imposição da sociedade é vista por muitos como uma necessidade básica e natural do ser humano, por isso encontramos muitas pessoas alienadas. Muitas vezes, a alienação (que é uma distorção) pode ser uma maneira que o indivíduo constrói de sobreviver. Uma maneira dele resistir às violências impostas.

Ao entrarmos no assunto Necessidade, o professor não pôde deixar de falar do Capitalismo. Vários tópicos foram abordados, como os padrões capitalistas, seus efeitos nas vidas e nas mentes das pessoas, sua relação com as novas tecnologias, entre outros temas.

O professor terminou enfatizando a importância de buscarmos nossa memória. Disse que devemos entender que ela não é formada apenas por coisas boas, e que mesmo se for, isso não quer dizer que coisas ruins não tenham ocorrido. Para ele “é preciso entender a história para entender o potencial. Utopia com o pé no chão.”

10 horas – Mostra de Capoeira
Com o grupo Navio de Angola

A capoeira é uma expressão cultural de nosso país que mistura arte marcial, esporte, música e cultura popular. Sua origem é uma incógnita e seu desenvolvimento é atribuído a descendentes de africanos trazidos pelo governo português como escravos no período Brasil-colonial.  Em julho de 2008, a capoeira foi reconhecida pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como patrimônio cultural imaterial do Brasil, através do registro das Rodas de Capoeira no Livro das Formas de Expressão e do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro dos Saberes.[1]

Os primeiros registros históricos com descrições da prática da capoeira datam do início do século XIX. Antes disso, a palavra era usada para se referir a malfeitores e principalmente a escravos fugitivos que, para conseguirem liberdade, fugiam através de matas rasteiras denominadas capoeiras.

A capoeira exerceu influência em diversos momentos da história do Brasil, como na guerra do Paraguai, onde muitos capoeiristas foram recrutados como “voluntários da pátria”. [2]

É considerada uma das práticas esportivas mais complexas e completas da humanidade e seus aspectos multifacetados permitem trabalhá-la como forma de arte, dança, cultura, luta, arte marcial, jogo, esporte, música, folclore e filosofia. [1]

Em uma apresentação descontraída, os capoeiristas do grupo Navio de Angola impressionaram os alunos e visitantes do Pólo com uma mistura de habilidade, agilidade e força dos movimentos.







Agradecemos a presença de todos.


Referências:

[1]LUSSAC, Ricardo Martins Porto. TUBINO, Manoel José Gomes.  Capoeira: A história e a trajetória de um patrimônio cultural do Bras In:  R. da Educação Física/UEM – Maringá,  v. 20, n. 1, p. 7-16, 1. trim. 2009

[2] CARNEIRO, Édison. Cadernos de Folclore – Capoeira.


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